Servidor disse que conseguiria saída de Mauro Albuquerque por R$ 500 mil.

 Servidor disse que conseguiria saída de Mauro Albuquerque por R$ 500 mil.
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Prints encontrados pela Polícia Civil no celular de uma advogada, presa suspeita de ligação com uma facção criminosa, mostram que ela recebeu propostas criminosas de um servidor da Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (SAP). A saída do secretário Mauro Albuquerque da pasta, a um preço de R$ 500 mil, era uma delas.

Nas mensagens, que integram os autos da operação “Profilaxia” e às quais O POVO teve acesso, o homem, sem se identificar, entra em contato com a advogada Wanessa Kelly Pinheiro Lopes dizendo ter “bons amigos em bons setores”. O contato é feito por meio de uma rede social no dia 17 de fevereiro, provavelmente, de 2022.

“A pessoa do governo não quer se expor, mas sabe como resolver o problema retirando as pessoas certas”, diz na sequência. “A questão é se estão dispostos a pagar o valor”. A advogada, então, questiona o homem sobre o que ele teria para “vender”.

O contato responde que conseguiria saber endereço de pessoas, quantas pessoas poderiam “cair” (sair do Governo), quem prejudica a facção Comando Vermelho (CV) e diz ainda que poderia arranjar pessoas que treinassem “quem não sabe atirar”.

Ela, então, pergunta por quanto Mauro Albuquerque deixaria a SAP. “500”, responde o homem, acrescentando que seria “250 antes” e “250 depois da saída”. Confira o trecho da conversa em que a proposta é feita:

A partir disso, os prints mostram que a conversa migrou para o aplicativo de trocas de mensagem WhatsApp. Nesta conversa, a advogada diz ter interesse em duas situações em específico, mas que ela não diz quais.

O servidor pede para que ela o chamasse no aplicativo Telegram e, depois, não há mais prints da conversa. Não há informações se, de fato, foi firmado acordo para derrubar o secretário ou qualquer outro tipo de tratativa.

O Departamento de Inteligência Policial (DIP) identificou que o IP de criação da conta que conversa com a advogada pertence à Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice). A Etice respondeu à Polícia Civil que a faixa era utilizada pela SAP.

Informações sobre o endereço de Mauro Albuquerque eram negociadas

O secretário Mauro Albuquerque confirmou a existência da tratativa e informou que o que estava sendo oferecido era o seu endereço residencial. A entrevista, dada com exclusividade ao O POVO, ocorreu na noite dessa quinta-feira, 16, durante cerimônia de anúncio da liberação de 74,5 milhões para o Ceará por parte do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).

“Você imagina uma pessoa que trabalhava dentro do sistema prisional oferecendo o endereço da minha família”, afirmou Mauro. “Isso é muito mais grave. Não é o secretário Mauro, porque estou o tempo todo exposto, e não tenho medo de facção nenhuma. Não estou preocupado com isso, estou preocupado quando se fala da minha família.”

O secretário voltou a afirmar que não recuaria no combate ao crime organizado. “Qualquer policial que tenha desvio de conduta irei atrás. Como foi esse, quando fiz o contato com o (Sandro) Caron (ex-secretário da Segurança Pública). Foi a gente que passou, foi a minha inteligência que identificou, um informante passou para o meu secretário.”

O servidor identificado nas mensagens à advogada não consta na lista de policiais penais do Estado disponibilizada no portal Ceará Transparente. Mauro confirmou que ele já não integra mais os quadros da SAP. O POVO opta por não divulgar o nome dele por não haver ainda acusação formal.

O POVO entrou em contato com a Polícia Civil do Ceará (PC-CE) para saber se mais algum servidor envolvido na negociata foi identificado, assim como se houve prisões relacionadas ao caso. A corporação somente disse que não comenta investigações em curso.

Em nota, a SAP declarou que a ocorrência é “mais uma prova de que o Estado do Ceará segue no caminho certo para combater os criminosos que tentam desafiar o Estado”.

Secretário executivo da SAP é alvo de fake news

Em vídeos que circulam nas redes sociais, o secretário executivo de Planejamento e Gestão Interna da SAP, Álvaro Cardoso Maciel, foi, falsamente, identificado como o servidor que ofereceu à advogada a derrubada de Mauro Albuquerque

Nos prints encontrados no celular de Wanessa Kelly, há uma conversa dela com Maciel, mas sobre outro assunto. A advogada questiona se ele entrou em contato com um preso, o que ele confirma, mas destacando que foi uma “conversa informal” e que não achou “tão relevante”.

O secretário compareceu espontaneamente à Delegacia de Combate às Ações Criminosas Organizadas (Draco) para prestar esclarecimentos. Em depoimento, ele afirmou que nunca conheceu a advogada pessoalmente, conversando com ela apenas virtualmente sobre questões do sistema prisional, já que ela era da seara criminal e tinha vários clientes presos.

Maciel ainda abriu mão do sigilo telefônico, telemático, fiscal e bancário para comprovar que não tem ligação com a advogada.

Em ofício à Vara de Delito de Organizações Criminosas, o delegado da Delegacia de Combate às Ações Criminosas Organizadas (Draco), Huggo Leonardo, corroborou não haver “lastro probatório mínimo” contra o secretário, “razão pela qual esta figura apenas como testemunha”.

Em nota, a SAP afirmou que trabalha “de maneira ininterrupta” para descobrir os autores da fake news. “A SAP afirma que os autores do vídeo mentiroso e fabricado estão associados à indústria do crime organizado”, diz em nota. “Essas pessoas serão identificadas e autuadas no rigor que determina a Lei do Estado brasileiro.”

O Povo