Mortalidade por câncer de mama cresce 12% em dois anos no Ceará

 Mortalidade por câncer de mama cresce 12% em dois anos no Ceará
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A mortalidade por câncer de mama cresceu 12% no Ceará entre 2017 e 2019, segundo dados preliminares do Ministério da Saúde. Ao todo, 684 mulheres perderam a vida por conta da doença, em todo o estado, em 2017. O número cresceu para 734, em 2018, e para 772, no balanço preliminar do ano passado. O órgão ainda não disponibilizou dados de 2020.

Moradora de Sobral, no Norte do Ceará, Luana Maria lutou para viver após receber um diagnóstico tardio, com apenas 32 anos, em novembro do ano passado. À época, ela estava grávida de José e já notava um pequeno nódulo na mama direita, que triplicou de tamanho em dois meses.

“Eu confesso que não fazia o exame de toque, e o meu câncer já estava no nível quatro, o último. Foi uma surpresa porque achei que só acontecia com mulheres acima de 40 anos”, revela a auxiliar administrativa.

Depois de enfrentar 16 quimioterapias, 15 radioterapias e a remoção da mama, durante a pandemia da Covid-19, Luana venceu a doença e passou a conscientizar outras mulheres pelas redes sociais. “Sequelas ficam, mas consegui me sair tranquila. Sempre falo que a vida está nas mãos da gente”, reforça.

Médicos cearenses apontam que o isolamento social da pandemia do novo coronavírus também prejudicou o diagnóstico da doença. O Ministério da Saúde mostra que o número de mamografias no Ceará caiu 44% de janeiro a agosto de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019.

Mamografias no CE (janeiro a agosto)

201851.155
201958.085
202032.351

Fonte: Ministério da Saúde

O mastologista Fernando Melo, presidente da Regional Ceará da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), explica que, quanto mais tardia a percepção do tumor, menor é a chance de recuperação.

“A recomendação é que o exame seja feito a partir dos 50 anos. Mas, aqui no Brasil, percebemos um aumento nas pessoas mais jovens. Com isso, a Sociedade de Mastologia recomenda fazer o rastreio bem antes, a partir dos 40 anos de idade”, alerta.

Para o mastologista, também existe uma motivação cultural para a redução, mesmo com os esforços de rastreamento dos órgãos de saúde. “Existe uma ideia, principalmente no interior do estado, de demorar a procurar atendimento médico. Quando você adia o tratamento e é diagnosticada em fase avançada, o resultado é pior”, garante.

Conforme levantamento da SBM, a maioria das cearenses já chega aos consultórios no estado em estágio avançado da doença. Em 2009, por exemplo, 66% das cearenses eram diagnosticadas com tumores acima de dois centímetros. Já em 2018, esse percentual aumentou para 78%.

Luiz Porto, coordenador do Comitê Estadual de Controle do Câncer do Ceará, reitera que a letalidade está “associada ao estadiamento dos casos novos”, já que “a maioria das pacientes é diagnosticada com doenças avançadas (estágios III e IV)”. Ele diz também que a realização de mamografias foi o serviço mais impactado pela pandemia, embora consultas de suspeitas clínicas não tenham sido paralisadas.

Segundo Porto, 47 unidades hospitalares de 21 cidades do Ceará possuem mamógrafos da rede estadual para diagnóstico da doença.

Em junho, a costureira Rosineide do Nascimento, 44, encontrou um caroço no seio esquerdo, “bem pertinho da axila”. “Me bateu a vontade de fazer o toque. Estava assistindo à TV e senti um carocinho, como quem não quer nada”, recorda. “Eu vejo hoje que as pessoas só procuram por saúde quando não tem mais jeito”.

Em consulta durante a quarentena, a moradora do município de Maranguape, na Grande Fortaleza, foi encaminhada para uma biópsia. “Não fiquei com medo de ir ao hospital porque o governador já tinha liberado muitas coisas. Sou mãe, preciso me cuidar. Meus filhos dependem de mim, se eu morrer quem vai ficar com eles?”, avalia.

Luiz Porto, do Comitê do Câncer do Ceará, lembra que os serviços especializados se adaptaram às recomendações sanitárias e “continuaram atendendo, embora pacientes em seguimento estável tenham sido reagendadas para datas posteriores, tudo segundo avaliação individual de cada caso”. A fila de espera é organizada pela Central de Regulação.